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Thursday, February 17

Angra

Amanhã é natal. E daqui, dos dias chuvosos de verão que se seguem, há uma nítida sensação de efervescência no ar, como se tudo, absolutamente tudo, pudesse acontecer a partir de agora. Me sinto livre, eu mesma. Em pensar que há poucos meses essa sensação era inimaginável. A angústia e a incerteza que tomavam conta eram tão grandes que eu não enxergava um palmo à minha frente.
Agora ouço o som das ondas batendo nas pedras, o barquinho lá longe com seu motor incessante, as gotas gordas que restam de uma chuva que já se foi a baterem no piso de pedra da varanda. Sinto o cheiro forte da maresia invadir o quarto e penetrar nos lençóis, se misturando com o meu cabelo. A paisagem salgada e selvagem me faz lembrar o dia em que cortei a perna nos mexilhões do cais. Os dias de verão em Angra trazem uma cruel nostalgia de outros verões, outras viagens, cheiros e músicas. Nessa casa, as memórias se confundem. Quando balanço na rede e olho para as casuarinas, não sei mais se tenho 13 ou 25 anos. A vontade de viver intensamente é a mesma, e a melancolia que o mar traz continua latente.

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