Subjetividades

Thursday, July 7

Entraram os dois por aquela grade amarela, trocando passos e beijos extasiados, na escadaria e no quarto andar, como manda o figurino, a noiva suspensa no colo do noivo para conhecer a nova casa onde tudo, tudo, era pensado nela, ele dizia, os quadros, os livros, os móveis, aquilo se derretia no chão de tanto calor, a saia de tule ficando pelo corredor, a gravata amarfanhada num canto, os suspiros contra a parede, dois afobados no apartamento, entrelaçados num nó de purpurinas, as pernas, retinas e bocas cheias das palavras mais baratas de amor verdadeiro, amor daqueles de tirar o fôlego, fazer chorar e morrer sufocado nas lágrimas de quem acreditou na fantasia e foi do céu ao inferno num só dia. Era carnaval. E ela tinha se esquecido.

Tuesday, July 5

Hot rocks

Com o copo de whisky pela metade você
me abriu a porta e os poros e fez entrar
macio em meus ouvidos o som que tanto
me faz suspirar, derretida no instante.

Nas galerias do Rebouças, dia sim,
dia não, ainda penso em você como
quem, de fato, perdeu um membro
e ainda o sente coçar.

Parece entender tanto
de gente, lê
Nietzsche, Jung, fala
da vida em tom
dramático,
da sutileza e da poesia, diz
gostar do mistério
de cada
mulher
mas não me convida
nem para um segundo
café.
O que é que
ele tem?