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Monday, September 24

A Mulher da Capa

Um livro do Hopper e as coisas ficaram turvas mesmo. Charlotte Lovell nem apreciara direito e também não sabia ao certo o motivo da compra. Mais do que a necessidade de adquirir uma coisa nova com seu dinheiro foi querer embarcar na frase que o professor de literatura havia dito na semana passada: "é o pintor da solidão". O livro, assim que entrou em casa, fora aberto uma ou duas vezes, não mais do que isso, e logo pousado sobre a bancada. Alguns papéis soltos e caderninhos acumularam-se em cima, tornando quase invisível seu volume imponente de capa dura e edição comemorativa. Estava apagado, sem fazer alarde, como um de seus rostos tristes dentro de cafés. Estranhamente, não fora colocado junto aos outros livros de arte. Estava deslocado do grupo, em lugar esquisito, inapropriado. Hora ou outra, Charlotte se pegava pensando "tenho que tirar o Hopper dalí", mas acabava por não fazer. Foi que ontem, sem mais nem por quê, desafogou-o dos papéis e contas e deixou a mulher da capa brilhar e respirar outra vez. Dona de sí.

4 Comments:

Blogger Unknown said...

Boniteza.
Que boniteza.
Deu vontade de estar sozinho em um café com Hopper. Deu vontade de tristeza. Vai ver é a angústia. Angústia dá vontade de gritar ou de tristeza. Li o texto e deu a segunda na cabeça. Os desaforos que ia dizer acabaram sendo adiados pelo seu texto.

6:31 PM  
Blogger lienkhe@hotmail.com said...

E.H.é um dos meus preferidos. Sabia?

10:49 PM  
Blogger milene portela said...

Hopper tbm é o pintor de uma realidade clara, algo de pular aos olhos, não é mesmo?

só por isso a moça da capa merecia mesmo dar uns bordejos! ;)

11:23 AM  
Blogger Cris said...

Não me canso de vir aqui, escreva mais, mais e mais...

9:41 AM  

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