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Friday, October 20

Física

Estavam sentados lado a lado, e a atmosfera, que, num primeiro momento, inspirava tranqüilidade, se fosse observada com um pouco mais de calma, exalava tensão. Dois corpos que se atraem, impedidos por um certo atrito. Pura física. Contudo, palavras amenas, proferidas com cuidado, não transpareciam igual pureza
Era como um balanço...
De repente se aproximavam, seduzidos pelo perigo do penhasco. Mas logo um desequilíbrio vertiginoso brotava em seus corpos, e eram forçados a se afastar por um instante. O que soava mais como uma questão de auto-preservação.
Os dois pólos pareciam querer se unir a qualquer instância. E o atrito a arranhar.
Porém, houve um momento, uma simples conjuntura dos astros naquele segundo, em que ela se distraiu e deixou escapar, por detrás dos elétrons, a respiração. E ele percebeu. Aproveitando a eletronegatividade favorável, propôs: ela fechou os olhos. E assim, cerrados, eles enxergavam lá dentro da menina. Tiraram uma radiografia do seu coração naquele instante e revelaram, mesmo que contra a vontade da dona, seu interior, à medida em que ele sussurrava ao pé do ouvido poeira cósmica.
Parecia que assim, cega para o mundo, ela se permitia ser ela mesma, deixar fluir. Era mais fácil no escuro.
Ele disse as últimas palavras em tom de música, e aquela voz exalava um cheiro único que despertava na menina vontade de gritar. Os cílios não podiam mais conter, e, umedecidos, transbordaram a verdade. E a lágrima escorreu.

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