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Friday, December 1

Não consigo ficar nem um pouco calma com isso, mas escrevo.
Muitas vezes, durante a escrita, estou tão atordoada que nem a caneta consigo segurar direito, a letra um rabisco, o que acaba por me irritar, ainda por cima. Parece que não encontro as palavras. Elas vão se esgueirando em buraquinhos mínimos e não consigo pegá-las, é uma batalha. Me sinto incapaz de usar as palavras.
A palavra, aliás, é uma coisa que me deixa no chão, pois sempre tenho a sensação de que não sou digna de usá-la corretamente, me sinto sempre errada. Elas têm esse poder. Mas descrevo, escrevo, mesmo assim. É que a palavra é minha aliada e inimiga ao mesmo tempo.
Não existe muita calma ao escrever. Não existe calma, aliás. Eu nunca escrevo calma. É sempre em desespero, sem fôlego. Escrevo para conseguir permanecer nesse mundo. E isso implica tudo menos calma.
A luz das tardes, essas tardes frias e claras de maio, embaladas pelo som da máquina de lavar, me deixa louca. É uma luz tão pura e medonha, quase um convite para a destruição. E eu sempre quis derrubar todas aquelas mesas do bar, todos aqueles chopes se estilhaçando no chão, os rostos apavorados, os olhares ridículos, me fitando e pensando “tadinha, enlouqueceu...é infeliz”. Eu tenho vontade de esganar todo mundo. Não porque sou louca, mas porque não sou perfeita, porque não sou boazinha, porque sou tudo. E porque ver tudo na mais perfeita ordem – hipócrita!- me irrita e me faz querer gritar. Não está nada bem! Nada bem! A vida não é uma festa! Mas a vida também não é só um martírio. Mas o que é a vida, afinal? Sou completamente incoerente, pois quando acordo bem disposta, aquela sensação me parece a única possível de um ser humano. Como é ser infeliz? Como é ser triste? Como é ter angústias? Nesses dias eu não sei. Nunca soube. Mas nas vezes que acordo enjoada, latejando dúvida e me arrastando pelos corredores da cozinha, pisando no chão frio e duro, não sei o que é a vida senão a dor. Nem me lembro que sei rir. E parece que sempre fui assim.
Esses gritos de criança no recreio da escola aqui do lado me dão uma dor de cabeça alucinante. As horas voam só para zombar de mim. O telefone toca:
- Alô?
- Alô, Naná! Preciso falar com você! Estou péssima, não sei o que fazer, me ajuda!
A ironia da vida ainda me surpreende. Pedir ajuda a mim? Isto é a materialização da insensatez.

2 Comments:

Blogger Clara Mellac said...

Nesse sentido me identifico muito com você: tenho essa coisa de existirmos nos extremos.

2:46 PM  
Blogger Thaís Z said...

Sei exatamente qual é a sensação...
Também tenho um texto sobre a minha relação com as palavras, depois vou postar pra vc ver o que acha.
Beijos!

2:42 PM  

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