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Friday, October 20

Um Belo Movimento no Escuro

Eu não sei. Não sei mesmo. O que se passa é palavra escondida. Incógnita. Durmo e acordo sem saber.
Ao anoitecer, passo sempre pela área espiando de relance o céu daquela hora. Olho as estrelas, como quem espera a salvação. Como quem espera o dia em que, ao se abrir a porta, a espera vira ontem. Amarga espera de quem espera o doce.
Parece que lá no pé do dia o gosto vem. A impressão é de que todo minuto de dia tem broto de flor dentro. O problema é achar o regador. Fica escondido, com medo da muda nascer errada. Como pode?!
Acho mesmo que nunca vou saber o motivo. O por quê desse desequilíbrio quando ando na rua e sinto cheiro de livro, de palavra. Faz com que eu me lembre, sempre, sempre e, muito sempre, desse sorriso quebrado que me faz chorar. Desse olhar que corta e cura ao mesmo tempo. É que, de uma certa forma, isso é o que preenche o marasmo do saco de estopa. Vazio ele não pára em pé. E nem eu.
Aí vem um poema, uma música, um morango, um texto, um filme e um nó. Assim, tudo aomesmotempomeatropelando! E me deixando louca de novo. Que é sempre pior que da primeira vez. Quando se endoidece a primeira vez, o grito e a angústia têm um frescor de pão quentinho. Nas vezes seguintes, é pão dormido. E a garganta aperta mesmo, parece que não passa nem uma agulha.
Vai ver que estou grudada. Sou a asa do bule que quebrou e depois de colada pareço mais nele do que antes. Meus sentimentos passaram cola no verso e abraçaram meu coração de tal forma que...que...que nem sei. Eu não sei, não. Eu disse no início que não sabia.
E a cada fronha, uma esperança. Oração para que dessa vez o sonho não assuste. Ou que não se acorde daquele tão delicioso mergulho no fundo do mar, de mãos bem dadas e plenitude no peito. Mas a fronha insiste em ficar quente no verão, e aquela agonia de calor vai subindo, eu mudo de lado, viro, dobro, e ela esquenta. Ah! Se as fronhas ficassem sempre geladinhas no verão...
Não perco a mania de me imaginar melhor do que sou. Imagino-me sempre mais feliz. Mais confiante. Mas segura. Lá no futuro, que é depois da curva de laranjeiras, eu me vejo bem. Calma, plácida. E tem sempre alguém do meu lado bem caladinho. Em silêncio. É como se a gente estivesse conversando por horas. Com cara de quem sempre esteve ali.
Outro dia meu eu me disse que eu preciso gostar mais de mim. Mas não consigo entender o significado dessa frase! Eu não sei o que é. Acho difícil essa questão. Nunca é aonde acho que deveria ser. Vivo errando de lado. Aí ele sussurra e fala “ pára de fingir que está gostando, porque se estivesse, não precisaria falar uma palavra. A sensação de prazer tomaria conta por si só e transbordaria seu coração para fora.” É...eu tem razão.
Mas eu só queria dizer que só sei do hoje. E hoje, eu passo adiante.


3 Comments:

Blogger Unknown said...

eu adoro quando a fronha fica geladinha, fico deslizando as mãos até que esquente.
lindo texto, voce escreve muito bem.
virei freguesa, vou sempre aparecer por aqui e deixar meus comentários inúteis. rs.

beijinhos,
rachel.

3:33 AM  
Blogger gduvivier said...

adorei o título. vou considerar com uma homenagem.
beijos do quase primo.

5:32 PM  
Blogger Eduardo Politzer said...

tomou coragem e assinou o nome na internet... hehe, parabéns

9:19 AM  

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