Subjetividades

Wednesday, December 13

A última pétala de Sofia

( 23 hs. Prestes a sair de casa).
Espasmos. Meu corpo inteiro experimenta no momento uma sensação de formigamento que é prazerosa e ao mesmo tempo tremendamente assustadora.
Ando querendo acabar com as coisas não ditas. Apesar de elas terem um mistério que encanta, são absurdamente covardes.
E é isso mesmo que não suporto em você! Com essa pose de conflito eterno, vem me envolvendo e sufocando e eu vou, cada vez mais, me sentindo presa em uma rede, uma teia de aranha com a qual eu estranhamente compactuo.

( Já me arrumei duas vezes para sair e desisti. Daqui a pouco ele está aqui para me pegar.)

O que me dói é saber que você me ama e não faz nada.
Tenho experimentado a sensação de querer fazer tudo. De que preciso, de alguma forma, ocupar a minha cabeça com coisas que não me fazem lembrar de você. Tenho ido a lugares em que nunca te encontraria, conversado com pessoas que você iria detestar e ouvido músicas que, com absoluta certeza, iriam ser desaprovadas pelo seu gosto – que, ironicamente, combina muito com o meu. Aliás, bom gosto é uma coisa essencial. Sem bom gosto não dá nem para começar a conversar. Me irrita quem não tem bom gosto.
Não tenho paciência.

A verdade é que venho me escondendo atrás de outros para você não me atormentar mais o pensamento. Mas por que eu só consigo dormir depois de pensar em você? É como um calmante para a minha alma. Sua lembrança tem cheiro de camomila.

( Tirei a roupa de novo. Não estou conseguindo ser falsa hoje. Ele que vá sem mim e não me pergunte o motivo.)

É bom me olhar no espelho. Me sinto mais dona de mim. Assim como quando encaixo uma frase com timing perfeito em um diálogo nosso. Coisas assim bobas, mas de extrema importância para mim. Porque os momentos mais felizes da minha vida são aqueles em que não faço absolutamente nada. Mas que sinto TUDO.
Hoje foi assim.

E quer saber? Eu não compreendo nada mesmo! Eu te amo!

E cansei de repetir a mim mesma que tenho que tirar isso da minha cabeça. Porque não dá, simplesmente não dá. Mesmo que a volúpia nunca tenha tomado totalmente conta de mim, talvez porque eu sempre sentisse que você não estava presente de corpo e alma comigo. Parecia estar longe...tão longe que o beijo tinha um sopro de montanha. E eu me sentia silenciosamente sozinha. Sempre faltava alguma coisa para você. E isso acabava comigo. Eu não era suficiente.

Foi aí que percebi que não era EU quem estava ali. Aprendi tanto...o bom da vida é que se aprende. E se cresce. E se evolui. Isso é por demais excitante. Hoje vejo que aquela não era eu. Eu nem sabia quem era eu. O que era eu? Sei lá! Mas o que me faz encher os olhos de lágrimas e querer correr para você é que hoje eu estou sendo. Eu agora começo a ser eu. E estranhamente me dá uma vontade louca de te abraçar bem devagarzinho, como se meus braços fossem feitos de nuvens e minhas lágrimas de chá, para que você as pudesse lamber.

Só que estou cansada de toda essa baboseira intelectual e egoísta. Eu preciso de calor humano. De atos irracionais, de ações inconseqüentes e impensadas, preciso correr risco. E você nunca deixou que eu percebesse sua fraqueza diante da minha figura de mulher. Me falava “ agora tenho que ir.” E eu ia embora me desmantelando por dentro, ferida e tentando entender o que em mim poderia ser tão desprezível. Isso sempre me doeu. É orgulho ferido mesmo, de quem sempre foi acostumada a arrancar olhares de admiração, por vezes os mais lascivos. Eu sabia lidar com isso muito bem. Mas você me desconcertou e eu tenho profunda, profunda, profunda raiva.

( Sabe de uma coisa? Eu vou colocar a roupa de novo e um blush no rosto. Linda. Saber que ele me deseja mais do que tudo nessa vida até me provoca uma vontade de ir.)

Ah....mas eu não consigo te tirar da cabeça!!! Ele me abraça e eu pouso meu olhar frio e congelado sobre a multidão, tentando desesperadamente te ver em algum daqueles rostos.

Outro dia, na rua, um homem disse que eu era uma flor.

E eu sou mesmo. Uma flor que desde que nasceu está se despedaçando...e por muitas vezes foi tão doloroso esse processo que tentei colar a pétala morta de novo. Porque eu não conseguia enxergar, eu não via um palmo à minha frente e insistia para que o modelo que me fora passado de valores que uma pessoa deve ter na nessa porra de sociedade fosse perpetuado. Como eu poderia quebrá-lo? Quem era eu para tal ato que beirava a anarquia? Ah! Acontece que quando abri os olhos o único caminho que me chamava com tanta força e tocava aqui dentro era exatamente esse: o da libertação. E hoje, ao me despedir de você no meio da avenida, eu senti uma pétala muito grande cair, mas estranhamente, me senti mais bonita sem ela.

Isso tudo na verdade é um grito para que você me escute com os sentidos todos abertos – isso é importante, PRESTA ATENÇÃO: eu só queria que em meio aos meus discursos e questionamentos você me calasse com um beijo.

( Ele chegou. Tenho que ir. Meu corpo vai. Minha alma fica.)

Sofia

5 Comments:

Blogger Thaís Z said...

Caramba, esse é dos antigos!

Gosto desse texto, é uma montanha-russa... tem trechos que eu podia ler gritando e outros sussurando...

Beijos

6:07 PM  
Blogger gduvivier said...

Depois de A Escolha de Sofia e O mundo de Sofia, a última pétala de Sofia!

1:13 PM  
Blogger Clara Mellac said...

Eu gostei tbm!!

2:07 PM  
Blogger Clara Mellac said...

Eu gostei tbm!!

2:07 PM  
Blogger Mariana said...

Cathaaaaa
Q escrita linda!!!!
Amei! Respirava fundo e depois perdia o folego!
Meu blog tambem eh de bolinhas, mas de conteudo mto inferior ao seu! hehehehe
Meu blog eh pra desabafo mesmo...hehehehe
Querida, que saudade! Parabens por essa belezura q vc se tornou! Flor!
bjkonas,
Mari*Assumpcao

10:59 PM  

Post a Comment

<< Home