Unforgettable Lady

As vezes parece
que o mundo todo me
olha e contempla o
simples gesto que
faço com as mãos.

Para Ana C.

Baby,
há tempos que não te escrevo e hoje a manhã mandou me tirar da cama cedo com tua ligação. Não é que eu esteja reclamando, mas quando me disse que a Ritinha era passado, fiquei bamba como o quê. Você dispensou ela por minha causa? Espero que não esteja contando com o ovo dentro da galinha, afinal, a bicicleta vermelha eu já vendi e aqui dentro não cabe mais ninguém.

Entra macio e fecha a porta branca logo que pegar a cadeira pra sentar feito cinema enquanto eu sou só fricotes no quarto ao lado despindo a habitual pra colocar uma de renda seguida de meia fina seda de um três quartos provocante até a coxa que te agrada tanto e assim em cima aquele tomara que você sabe que vai cair pra trás quando me vir toda em brilho nos seios e os olhos pintados de rímel estridente nos longos cílios que pinçam seu corpo pesado da poltrona e te fazem caminhar pra mim.
Para que eu te pise com meu salto agulha e tire tudo outra vez.

Poema de amor

Escrever um poema sobre
nós dois é como contar
daquela viagem ou descrever um
arrepio que se tem.
Falar o que se passa
é passar ao longe do que realmente
passa com a gente,
é tentar explicar o dia espiando
pela janela do quarto
enquanto dormimos exaustos
embriagados de nós mesmos.