Subjetividades

Friday, October 11

No universo, reza a lenda
e a minha mãe, a lua
gorda e cheia transforma 
sensações, se faz isso com
as marés, imagine com a gente,
é o que dizem, 
nós que somos feitos 
90% de água,
sempre disseram, ela muda tudo, 
umidifica o corpo, desequilibra
a mente, desestabiliza 
as certezas, se fala o que não
devia.
Mas apenas uma vez por mês, 
fica tranquila, me diziam.
Astro branco mitificado,
metaforizado na amplidão
dos amantes,
o que não devia acontecer
era se ter apenas vez ou outra 
sua face redonda, seu abalo
sísmico aqui dentro.
Desmedida regulada e dura esse
compasso de 30 dias, 
ter data para a loucura é 
domar o que não pode
ser regrado.

A angústia
te toma, te tira
o ar
te faz bater a porta
de casa
e cair no choro
no meio da escada
sentada fiquei por um tempo
imaginando sua 
volta pra casa
você não imagina como eu fiquei
ao bater aquela porta,
você não faz ideia, ao caminhar
pra sua casa que não é a minha,
casa que eu nunca vou, que não
tem a gente e que não me 
acolhe como 
esse chão duro agora.

Tuesday, October 8

Delicadeza

Com os ouvidos vermelhos de sangue, feridos 
de barulho, os homens sangravam 
histerias de metrópoles enquanto, 
plácidos e brancos, 
equilibravam-se 
em silêncio de câmera lenta 
em direção a lugar algum. 
Com um pretérito que ficou para trás
e um futuro inexistente, 
os bailarinos de butô 
conjugam movimentos no presente.

Sunday, October 6



Da gargalhada despertar, num súbito, do sonho.
O barulho do próprio riso, aberto, invade a aurora de dias mais leves, acorda o corpo e a consciência 
adormecida da noite efervescente. Estridente barulho 
latente no vidro da janela, torpor 
macio logo às 7h.
Surpresa rara das boas, acordar com o próprio
riso é o anúncio perigoso do abismo da paixão.

Balada-bagdá


Era dezembro ou janeiro de um verão 
verde-ácido, o barulho do pneu na grama, 
chegávamos e ríamos, ríamos do nome do hotel de veraneio, daquele letreiro caído, torto.
Minha mãe com uma faixa na cabeça enrolando 
palavras e ríamos sentados
na mesa de madeira, as cores pastéis esmaecendo o cenário.
Com as mãos dadas e o riso frouxo nos
despedíamos do pessoal.
Fazia calor dentro da gente, mais do que fora.