Subjetividades
Afastar-se para perceber acor da blusa e os pequenospóros que se abriram.Do abraço desencostar umtantoe reparar a marca de imperfeiçãona testapara o rosto à frente ser vistocom nova estranhezae com novo mistério.
Importante
esquecer a vela acesa
para deixá-la só,
única no aposento de madeira
incandescente vertical de
cera quente
para que queime tudo em paz
Subitamente se olharam. O mercado abarrotado de gente esgueirando-se sob o teto por conta da repentina chuva. O cheiro de tangerina fresca contaminava o ambiente.Ela, atrás da sessão de cereais, olhava-o do outro lado através do buraco deixado por uma embalagem caída no tumulto. Ele procurava um chocolate (nunca perdera o hábito).Ele - Uau, que surpresa! - seus olhos pareciam brilhar como há muito não se via.Ela - Nossa...oi!Ele - Por essa eu não esperava! Que bom te encontrar!Ela - O que você tá fazendo por aqui?Ele - Vim a trabalho.Alguém passou ao lado dela e pegou uma caixa de cereal, aumentando o vão que permitia que se vissem.Ele - Você está linda. Eu...Saiu de trás da prateleira e dobrou o pequeno corredor para vê-la melhor. Ela, o vestido florido, segurava a mão de uma pequena menina que batia na altura dos seus joelhos. Linda.Ele - É...?Seu coração parecia que iria saltar pela boca.Ela - É minha filha. Alice.Ele - Como ela se parece com você...Ela - É uma mistura...minha e do pai.Ele - Ah, sim, claro...nossa, você...você se casou quando? Eu...eu acho que não fiquei sabendo, ou pelo menos não me lembro de...Ela - Há quatro anos. Foi uma cerimônia pequena...só para os íntimos.Ele - Ah, é claro, eu não sou um íntimo seu, imagina...Olha, desculpa, eu tenho que ir, tenho que resolver umas coisas.Ela - E não vai levar o chocolate?Ele - Quê?Ela - O chocolate. Você estava escolhendo um chocolate...não foi para isso que você entrou?Ele - Eu desisti. Na verdade eu entrei aqui sei lá porque, eu realmente não devia ter entrado...engraçado...Ela - Olha, vou deixá-la agora na casa de uma amiga minha, porque você não me espera pra gente tomar alguma coisa?Ele sorriu e fez um sinal positivo com a cabeça. Ela agachou para falar com a menina:- Já escolheu qual você quer levar? Então vamos! Ele olhou para aquela cena e foi como se toda a sua vida passasse diante dos seus olhos, aquilo poderia ser a sua vida. Mas não era. Aquela poderia ser a sua mulher, mas não era. Era apenas uma pessoa pela qual ele sentia, sem saber o motivo, uma pontada no peito toda vez que a via, entre outras coisas.Ela - Eu já volto. Você me espera?Neste momento seus olhos castanhos o encararam com tamanha doçura e intensidade que a única resposta possível brotou como um soluço:- Claro.As duas sairam correndo no meio da chuva e foram desaparecendo na neblina.Passaram-se cinco horas e nada. O dono do mercado tentou ajudar:Dono - De repente ela teve um contra-tempo...já vai chegar.Ele - Eu espero.Após mais duas horas...Dono - Olha, ela não vai voltar. Não adianta...Ele - Eu espero. Dessa vez eu não vou embora, não vou deixar escapar.Depois de algum tempo o mercado fechou e ele apenas se deu o trabalho de prostrar-se do lado de fora, na chuva. A noite gelada, ele em pé e o olhar fixo na rua.
Único era o seu nome. Como Único reinava e
Como Único olhava as breves brumas do mar
verde-hortelã do condado de Sheffield.
Foi quando Outro atravessou seu reino e o destronou
Apagando suas três únicas sílabas